Entre empresa e corporação, a diferença é banal: uma corporação é um grupo que reúne
várias empresas de diversos ramos e que concentra muito capital e interesses sob um único
controle. Há corporações que têm empresas que atuam no ramo do petróleo, no industrial,
no agronegócio, no sistema financeiro e na produção de filmes para cinema e televisão,
por exemplo. Isso só explica que, quando os lucros crescem, os grupos econômicos vão
diversificando seus negócios e suas localizações, a fim de garantir maiores lucros.
Um autor importante pode ser citado nesse
momento. Trata-se do geógrafo brasileiro
Milton Santos. Deve ser recomendada muita
O interesse das grandes empresas é economizar
tempo, aumentando a velocidade da circulação.
[...] Corporatização do território é a destinação
prioritária de recursos para atender às
necessidades geográficas das grandes empresas.
Fonte: SANTOS, Milton.
A natureza do espaço: técnica e
tempo – razão e emoção. São Paulo: Edusp, 1996. p. 270.
Os fluxos de mercadorias, de serviços, de
informações circulando rapidamente pelas
redes técnicas (transportes e telecomunicações)
no mundo todo permitem o acesso a
vastos mercados (e muito mais). As corporações
que têm acesso, controle e investimento
nessas redes técnicas obtêm desse fato
uma grande dose de poder econômico.
Espera-se que o estudante perceba que um
automóvel é montado em alguns pontos da
rede industrial da corporação. As peças podem
vir de diversos pontos e são montadas
num ponto. E esse local é a montadora. No
Brasil, as montadoras utilizam componentes
de várias partes do mundo.
A organização da corporação automobilística
ultrapassa os espaços nacionais,
e que, por isso, pode ser designada como uma
corporação transnacional:
Fica claro que se trata de uma rede geográfica
da empresa que usa pontos dos territórios
nacionais, criando um espaço próprio que
ultrapassa os territórios nacionais e por isso
trata-se de uma transnacional legítima.
As redes geográficas das corporações transnacionais
estão entre as estruturas geográficas
que produzem um espaço global, base
para o processo de globalização.
geográfica das corporações transnacionais, sugerimos
agora uma busca dessa forma de organizar
o espaço geográfico em outras situações.
O cenário é a cidade de São Paulo. Essa metrópole
sofre desde os anos 1980 uma profunda
reestruturação no seu espaço geográfico. Seu
território está “invadido” por redes geográficas
que se estruturam do seguinte modo:
f
Pontos: habitações em condomínio fechado
↔
centros administrativos isolados também
em formato de
condomínio fechado ↔
centros comerciais (
shopping centers, hipermercados)
fechados e protegidos
Os usuários dessas redes geográficas procuram
concentrar o fundamental de suas vidas em
seu interior: residência, abastecimento, trabalho,
estudos, lazer etc. E, se possível, raramente saem
da rede, evitando assim o território pleno da cidade.
Uma pequena demonstração: pesquisas
mostram o número impressionantemente alto
de habitantes da cidade que nunca foram ao
seu centro histórico, usaram transporte coletivo
Há um custo financeiro para viver nessa rede
protegida e ele não é baixo, o que resulta numa
“seleção social”. O que diminui as trocas e as
relações entre a população da cidade, em vista
dessa separação (segregação?) sofisticada na sua
geografia. Afinal, as trocas, as relações sociais
desses segmentos usuários e construtores de redes
se dão quase que somente entre eles. E o que
isso tem a ver com as redes geográficas de escala
mundial, construídas e alimentadas pelas corporações
transnacionais, como a rede geográfica
da corporação automobilística asiática?
ideia aqui é que o aluno perceba que as
redes geográficas são espaços próprios que
não se relacionam abertamente com os territórios
onde seus pontos estão inseridos. O
exemplo das transnacionais é muito elucidativo:
circulam mercadorias, capitais mais
dentro da rede do que da rede para o território.
Algo que se assemelha à vida de um paulistano
que vive dentro das redes geográficas
que cortam a cidade.
Que semelhanças podem ser apontadas entre
a circulação de bens na rede automobilística
do Sudeste Asiático e a circulação de bens na
rede geográfica urbana de São Paulo?
consumo dos segmentos que têm mais renda
na cidade de São Paulo se dá quase que
exclusivamente dentro da rede geográfica em
que eles vivem. Esse é um exemplo que lembra
parte do que acontece nas redes geográficas
das corporações transnacionais.
Ambas as redes recebem grandes investimentos.
Isso significa automaticamente desenvolvimento
social e econômico para os territórios
onde essas redes estão implantadas?
no desenvolvimento local. Do mesmo
modo, os
shoppings centers (por exemplo),
que são a principal estrutura comercial nas
redes geográficas da cidade de São Paulo,
terminam enfraquecendo o comércio de rua.
A instalação de um
shopping ou de um condomínio
fechado num bairro pode trazer (às
vezes) mais problemas que vantagens.
Faz sentido afirmar que a rede geográfica é uma configuração geográfica que, de certo
modo, concorre com o território pleno?
Faz sentido, sim. Às vezes complementa (e não
concorre), mas às vezes concorre, como no
exemplo do comércio distribuído nas ruas de
um bairro (no território) com um
shopping,
que é comércio concentrado num ponto de
rede. O mesmo se dá com um ponto de rede
de uma transnacional industrial num território
que ela não beneficia muito, a despeito de
consumir energia, mão de obra, água etc.
Essa radiografia geográfica da estruturação
transnacional das corporações revela: a
importância das redes geográficas na globalização
que se constrói; um pouco das estratégias
e do poder dessas grandes empresas.
Muitos dados econômicos podem ser alinhavados
para dimensionar mais amplamente
a ação das corporações, mas eles poderão ganhar
mais significado se sua
lógica espacial for considerada.
shoppings centers (por exemplo),
que são a principal estrutura comercial nas
redes geográficas da cidade de São Paulo,
terminam enfraquecendo o comércio de rua.
A instalação de um
shopping ou de um condomínio
fechado num bairro pode trazer (às
vezes) mais problemas que vantagens.
Faz sentido afirmar que a rede geográfica é
uma configuração geográfica que, de certo
modo, concorre com o território pleno?
Faz sentido, sim. Às vezes complementa (e não
concorre), mas às vezes concorre, como no
exemplo do comércio distribuído nas ruas de
um bairro (no território) com um
shopping,
que é comércio concentrado num ponto de
rede. O mesmo se dá com um ponto de rede
de uma transnacional industrial num território
que ela não beneficia muito, a despeito de
consumir energia, mão de obra, água etc.
Essa radiografia geográfica da estruturação
transnacional das corporações revela: a
importância das redes geográficas na globalização
que se constrói; um pouco das estratégias
e do poder dessas grandes empresas.
Muitos dados econômicos podem ser alinhavados
para dimensionar mais amplamente
a ação das corporações, mas eles poderão ganhar
mais significado se sua
lógica espacial for
considerada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário